Na sequência do terremoto do Haiti, muita atenção tem sido dada a vários comentaristas loquazes que têm buscado lançar a responsabilidade pelo desastre e devastação seja sobre Deus ou o diabo. Mas a consequência imediata de tal evento provavelmente não seja a circunstância mais adequada sobre que discutir teologias alternativas do sofrimento. Em vez disso, estes dias e semanas deviam ser a respeito de uma teologia de compaixão e serviço -- e sobre pôr essa teologia em prática.
Assim, ao fazermos nossas doações, ao nossas comunidades participarem em iniciativas de levantamento de fundos e ao obreiros de socorro fazerem o seu melhor para aliviar o sofrimento sobre o terreno no Haiti, vale considerar por que devemos nos preocupar com essa tragédia. Especialmente quando, em alguns ambientes, até isso parece estar aberto para debate.
O destacado blogger da ESPN, Paul Shirley, foi retirado do site após insistir que o povo do Haiti não "merecia" assistência. "Eu sinto náuseas ante a noção de que SE ESPERA que eu faça alguma coisa", escreveu Shirley. "Gostaria de ajudar, mas somente se sentir que minha assistência é merecida e justificada".
Lamentavelmente, os seus comentários e muitas das respostas positivas a eles revelam uma triste ignorância sobre a natureza da pobreza. E a escala de destruição, morte e desespero no Haiti diz muito mais respeito a pobreza do que ao terremoto em si. O terremoto que abalou o Haiti em 12 de janeiro trouxe extrema tensão e um ponto de interrogação de partir o coração -- bem como atenção maciça da imprensa -- a uma situação já desesperadora e trágica.
E é exatamente por isso que o impacto do terremoto tem sido tão severo. A pobreza não é somente a ausência ou pouca disponibilidade de dinheiro, é a falta de recursos, oportunidades e escolhas. A pobreza conduz a um enfoque sobre a mera sobrevivência hoje, antes que sobre struir vidas em formas que possam ser mais resistentes aos inevitáveis desastres da vida. A pobreza é opressão da mente, corpo e espírito. Tende a esmagar a esperança, energia e empenho. A pobreza significa que lares e edifícios públicos são muitas vezes mal construídos, a infra-estrutura é limitada e o valor da vida humana diminuída. Tudo isso já existia antes da catástrofe ser televisionada.
Num lugar como o Haiti, esta pobreza é em grande medida tomada como fato assentado. É um conjunto complicado de questões envolvendo economia, política, história, cultura e sociedades -- tópicos não tão facilmente noticiados no noticiário noturno. Em geral, a mídia -- e a maior parte de nossa atenção -- somente ressalta os quadros dramáticos e relatos extra-traumáticos. E a maior parte do tempo não falamos ou pensamos sobre as lentas tragédias que são muito maiores do que qualquer terremoto ou outros eventos que ocupam as manchetes.
Sim, precisamos dar e trabalhar para aliviar o sofrimento imediato na sequência do terremoto do Haiti. E, sim, Paul, espera-se que façamos alguma coisa -- mas não somente esta semana ou este mês. Devemos fazer algo muito maior para confrontar a pobreza constante do Haiti e em tantas outras partes do mundo. Isso pode reduzir o impacto de desastres futuros bem como aliviar o sofrimento diário de tantas pessoas por todo o mundo.
Isso é parte da condição humana. Como uma escritora em minha tradição confessional declarou, "Todos somos tecidos juntos na rede da humanidade. O mal que sobrevem a qualquer parte da grande fraternidade humana traz perigo a todos" (Ellen White, "A Ciência do Bom Viver", pág. 345).
E a Bíblia nos oferece uma motivação ainda mais elevada: "O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado". (Provérbios 14:31).
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